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Quando eu era criança fazia cabana de lençol pra me proteger. Parecia impossível algo atravessar o pano; a minha vó pelo menos dizia que era, que ali eu pressentia ser mais forte que todos, ignorava tudo e me sentia feliz.
Um dia, a tarde, eu tive medo, e lá dentro, debaixo do meu lençol, e a vovó veio falar comigo, porque eu poderia apostar que alguém havia passado pela frente da minha barraca. Vovó entrou, e olha o paradoxo, me contou histórias de monstrinhos, e eu não senti medo.
A minha força, a minha confiança e a minha coragem estavam em uma pessoa, e não em um pedaço de pano puxado pra cima. E vocês pensam que eu vim descobrir isso agora? Não, não, no mesmo instante em que a vovó entrou na barraca e me colocou na sua perna, eu percebi. Mas ela nunca percebeu. Vocês, que pensam que crianças são sempre ingênuas e nem um pouco sagazes estão, ao todo, equivocados. Hoje, eu guardo lembranças intensas comigo, são poucas, mas o suficiente para eu desejar trazer o tempo de volta, entrar na minha barraca e deitar na perna dela. Saudade de todas as minhas vós.
É mágica. Eu penso, relembro e parece que elas estão dentro de mim.